Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
O
senador João Alberto cancelou uma cirurgia. O senador Romero Jucá teve
arrancada metade das tripas e está aqui firme". Renan Calheiros era só
orgulho ao exaltar a bravura dos colegas. Valia até fugir do hospital
para ajudar a salvar o mandato de Aécio Neves.
A
votação desta terça-feira não definiria só o futuro do tucano. Estava
em jogo todo o esforço para estancar a sangria provocada pela Lava Jato.
"Com o Supremo, com tudo", como profetizou Jucá, antecipando o
julgamento da semana passada.
O
tribunal se curvou à pressão dos políticos. O Senado aproveitou o recuo
e avançou na guerra contra as investigações. "Não é se deixando
subjugar por parte da opinião pública, da imprensa, que nós vamos fazer
justiça neste país", discursou o destripado líder do governo.
Jucá
falava em nome da corporação e do chefe. Michel Temer também suou a
camisa nas articulações a favor de Aécio. O presidente e o senador
mineiro firmaram um pacto pela sobrevivência. Um ajuda o outro na luta
para enfrentar o Ministério Público e continuar no poder.
Encorajados
pelo Planalto, os senadores decidiram desafiar a primeira turma do
Supremo. A esperança na salvação venceu o medo da opinião pública. Por
44 a 26, o plenário devolveu a Aécio o mandato e o direito de circular
na noite de Brasília.
O
triunfo do tucano é uma derrota para o Supremo, que sai do episódio
ainda mais arranhado. Ao abrir mão de dar a última palavra, a corte
acirrou sua divisão interna e reforçou a imagem de que passou a
colaborar com um "grande acordo nacional".
Desgastado,
o tribunal apanhou até de quem votou contra Aécio. O ex-tucano Álvaro
Dias criticou a "constrangida mudança de opinião" dos ministros. A
presidente Cármen Lúcia, que garantiu a salvação do senador mineiro,
teve que dormir com um elogio de Jader Barbalho. "Tenho que cumprimentar
essa mulher, que merece todas as nossas reverências", exaltou o
peemedebista.