A presidente afastada Dilma Rousseff acredita ter chance de reverter
o processo de impeachment, mas calcula uma margem acima dos 27
necessários para a votação definitiva no Senado. “É melhor falar que
precisamos de 30”, disse, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.
Para a petista, um dos motivos para apostar na virada é o fato de vários
senadores votarem favoráveis à abertura do processo sem citar o mérito
da ação. “Sobretudo porque as razões do impeachment estão ficando cada
vez mais claras. E elas não têm nada a ver com seis decretos ou com
Plano Safra”, apontou, citando 30 decretos semelhantes assinados por
Fernando Henrique Cardoso e 4 por Lula. “Quando o TCU disse que não se
podia fazer mais [decretos], nós não fizemos mais. O Plano Safra não tem
uma ação minha. Pela lei, quem executa [o plano] são órgãos técnicos da
Fazenda. Ou seja, não conseguem dizer qual é o crime que eu cometi”,
avaliou. Dilma ainda mencionou as gravações do ex-presidente da
Transpetro, Sérgio Machado, e defendeu que a articulação em torno do
impeachment tinha como razão impedir o avanço da Operação Lava Jato. “Eu
li os três [diálogos]. Eles mostram que a causa real para o meu
impeachment era a tentativa de obstrução da Operação Lava Jato por parte
de quem achava que, sem mudar o governo, a "sangria" continuaria. A
"sangria" é uma citação literal do senador Romero Jucá”, afirma,
destacando não ter interferido na apuração. “Outro dos grampeados diz
que eu deixava as coisas [investigações] correrem. As conversas provam o
que sistematicamente falamos: jamais interferimos na Lava Jato. E
aqueles que quiseram o impeachment tinham esse objetivo. Não sou eu que
digo. Eles próprios dizem”, ressalta. Questionada sobre o peso da crise
econômica e das dificuldades de relacionamento com o Congresso, Dilma
definiu o processo de impeachment como fruto da “combinação da crise
econômica com uma ação política deletéria”. “Pior: propuseram as
"pautas-bomba", com gastos de R$ 160 bilhões. O que estava por trás
disso? A criação de um ambiente de impasse, propício ao impeachment.
Cada vez que a Lava Jato chegava perto do senhor Eduardo Cunha, ele
tomava uma atitude contra o governo. A tese dele era a de que tínhamos
que obstruir a Justiça”, disse. Enumerando nomeações como a de Alexandre
de Moraes (ministro da Justiça) e de cargos internos da Casa Civil, a
presidente aponta que Cunha é “a pessoa central do governo Temer”. “Isso
ficou claríssimo agora, com a indicação do André Moura [deputado ligado
a Cunha e líder do governo Temer na Câmara]. Cunha não só manda: ele é o
governo Temer. E não há governo possível nos termos do Eduardo Cunha”,
considera, para completar: “Vão ter de se ajoelhar [a Cunha]”.