Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
As
primeiras notícias do governo Temer foram recebidas com festa e euforia
pelos porta-vozes do PIB. O ainda vice-presidente promete um choque
liberal na economia, com redução drástica dos gastos públicos e do
tamanho do Estado.
Um
novo plano elaborado por sua equipe fala em mudar a lei de licitações e
em privatizar "tudo o que for possível". O anterior, batizado de "Ponte
para o Futuro", defende a flexibilização das leis trabalhistas, o fim
das despesas obrigatórias com a saúde e a desvinculação do salário
mínimo aos benefícios sociais.
É
difícil imaginar que algum candidato fosse eleito no Brasil com uma
agenda assim, que faria corar muitos tucanos. Mas isso não vem ao caso,
porque Temer não terá que consultar o povo para vestir a faixa.
Cada
um é livre para torcer pelo projeto que lhe pareça melhor, mesmo que a
preocupação com o próprio bolso venha antes do resto. No entanto, a
prudência recomenda um olhar atento aos personagens do novo regime, e um
exame mínimo da viabilidade de suas promessas.
Quem
sonha com uma máquina pilotada por técnicos apartidários, e livre dos
vícios da era petista, vai acordar num país governado por deputados do
PMDB e assemelhados.
A
propaganda do corte de ministérios já começou a fazer água. Ontem a
Folha noticiou que o vice desistiu de reduzi-los a 20 para acomodar
partidos que votaram pelo impeachment. A conta subiu para 26 e ainda
deve aumentar até a posse.
Há
riscos de retrocesso em outros setores. A bancada evangélica, que se
uniu para derrubar Dilma Rousseff, agora apresenta a fatura. Na quarta,
Temer recebeu e orou com o pastor Silas Malafaia, conhecido pela
pregação ultraconservadora na TV.
Ele
cobrou o fim da distribuição de material didático que ensina as
crianças a respeitarem a diversidade sexual. Dois dias depois, vazou-se
que o vice deve entregar o Ministério da Educação ao DEM, que abriga os
políticos da igreja do pastor.