Carlos Chagas
Dilma
Rousseff não preside, muito menos governa. Apenas assiste o tempo
passar, nessa estranha interinidade determinada pelo processo do
impeachment a que responde. Raramente pode ser vista pedalando sua
bicicleta, em Porto Alegre ou Brasília. Se acompanha ou não as
iniciativas de Michel Temer, é segredo. Ninguém garante. A verdade é que
não se falam.
Aliás,
são raros os telefonemas que Madame dá ou recebe, exceção dos próprios
familiares. Mantém-se afastada de todos, a começar pelo Lula e as
lideranças do PT. Ignora-se, até, se lê jornais ou escuta rádio.
Aguarda-se para as próximas horas a divulgação de sua defesa, a cargo do
ex-ministro da Justiça e Advogado Geral da União. Omitem-se ou são
rejeitados os companheiros do antigo governo.
Há
quem suponha, no atual interregno, a disposição da presidenta de
mergulhar no esquecimento, indignada pelo abandono em que foi deixada.
Existem, porém, os que identificam em sua atual postura a estratégia de
contribuir para aumentar o tamanho do fosso existente entre sua presença
anterior no governo e as características apresentadas pelo substituto.
Ela não perdoa ter sido abandonada pelo antigo vice, ainda que nenhuma
iniciativa tenha adotado para evitar o vazio em suas relações
anteriores, antes que se caracterizasse o rompimento.
Numa
palavra, condenada em definitivo como parece a projeção do processo de
seu afastamento, ou por milagre reconduzida ao poder no final de 180
dias, como ainda acreditam alguns petistas, o destino de Dilma é seguir
isolada e esquecida. Bem que poderia dedicar-se a escrever suas
memórias..