O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma carta ao filho do jurista Hélio Bicudo, um dos signatários do principal pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff
protocolado na Câmara dos Deputados, afirmando que pensou em processar o
jurista, mas que desistiu por respeito à sua família. "Nos últimos
anos, tenho recebido em silêncio os sucessivos ataques do doutor Hélio
Bicudo, pontuados de rancor", diz um trecho. "Eu até pensei em tomar
medidas judiciais a propósito dessas injúrias. Mas não o farei em
atenção a você e a seus familiares. Eu e seu pai somos cristãos e ele
tem consciência de que Deus sabe que ele está mentindo". Em entrevista
ao Roda Viva, nesta semana, Bicudo afirmou que Lula enriqueceu de forma
ilícita e "se corrompeu e corrompe a sociedade brasileira como ela é
hoje através da sua atuação como presidente da República". A carta de
Lula é uma resposta a José Eduardo Pereira Wilken Bicudo, que, em
recente entrevista, se posicionou contrário ao pai e afirmou que o
jurista, de 93 anos, estaria sendo usado por interessados em derrubar a
presidente. O jurista foi candidato a vice de Lula em sua primeira
disputa eleitoral, para o governo de São Paulo, em 1982. Depois disso,
foi deputado federal pelo PT e ocupou vários cargos na sigla, tendo sido
vice-prefeito e secretário de Assuntos Jurídicos de Marta Suplicy na
Prefeitura de São Paulo. Seu rompimento com o partido ocorreu em 2005,
após a divulgação do caso do mensalão. Lula cita sua longa convivência
com Bicudo e destaca que, apesar de hoje divergirem sobre alguns temas, é
preciso manter o "respeito e consideração pelas pessoas". "Espero que
as deliberadas injustiças que o doutor Hélio Bicudo hoje comete não
ofusquem a contribuição que ele já deu ao Estado de Direito no nosso
País", diz. "Mas a calúnia rancorosa e sua exploração pela imprensa
servem para nos alertar sobre a necessidade de limites morais na disputa
política", completa. Apesar de ressaltar a importância da trajetória de
Bicudo, Lula diz que o jurista "ultrapassou todos os limites" ao atacar
"frontalmente minha honra pessoal e fez acusações caluniosas, ofensivas
e desprovidas de qualquer fundamento". "Diante desses ataques, não
posso permanecer calado, em respeito à minha família, aos meus
companheiros e aos que sempre compartilharam conosco a luta por um
Brasil melhor e mais justo". O ex-presidente diz que o atual
comportamento de Bicudo faz com que ele "se apequene". "São infâmias
proferidas por uma pessoa que, no passado, destacou-se pela defesa da
lei e da verdade. E que tristemente se apequena aos olhos do presente e
do futuro".