Revelação de que o presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mantinha contas secretas na
Suíça, cujos recursos já foram bloqueados, coloca em situação
constrangedora seus apoiadores; a começar pelos tucanos Aécio Neves
(PSDB-MG) e Carlos Sampaio (PSDB-SP), que bajularam o parlamentar, na
esperança de que ele abra um processo de impeachment contra a presidente
Dilma Rousseff; lista inclui ainda a senadora Marta Suplicy, que trocou
o PT pelo PMDB, em protesto contra a corrupção, e o vice-presidente
Michel Temer, que ainda não se pronunciou sobre o inferno astral de seu
correligionário; João Roberto Marinho, da Globo, também foi homenageado
por Cunha e vem sendo questionado por poupá-lo no noticiário televisivo;
mais constrangedora ainda é a situação dos manifestantes que ergueram
os cartazes “somos todos Cunha”.
E agora? O que dirão os aliados do
deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), depois da revelação de que a Suíça
bloqueou suas contas secretas e de seus familiares por suspeita de
corrupção e lavagem de dinheiro?
O maior constrangimento será do PSDB,
que, a despeito do discurso moralista, tem silenciado sobre a conduta de
Cunha. O motivo é simples. Tanto o senador Aécio Neves (PSDB-MG) como o
líder da bancada, Carlos Sampaio (PMDB-SP), apostaram na aliança com
Cunha para tentar provocar um golpe parlamentar contra a presidente
Dilma Rousseff. Agora, ambos terão de dizer se ainda mantêm a aliança
com um político investigado por corrupção e lavagem.
A saia justa também se estende a outros
aliados, novos e antigos. No PMDB, o vice Michel Temer, que seria
beneficiário de um eventual impeachment, ainda não se manifestou sobre
as suspeitas que pesam sobre Cunha. Da mesma forma, a neopeemedebista
Marta Suplicy, que trocou o PT pelo PMDB em nome da ética, se mantém em
obsequioso silêncio.
As alianças de Cunha, no entanto,
extrapolam o mundo político e o parlamento. Desde que se tornou
presidente da Câmara, ele fez questão de prestar homenagens à Globo e
ainda anunciou publicamente o fim de qualquer iniciativa pela
democratização da mídia. Coincidência ou não, a Globo vem sendo acusada
de poupá-lo em seu noticiário televisivo e parece mais preocupada com o
“lobby” de Lula em defesa de empresas nacionais do que com as contas
secretas do presidente da Câmara na Suíça.
Durante os recentes protestos contra a
presidente Dilma Rousseff, algumas faixas chamavam a atenção. Diziam
“somos todos Cunhas”, como se a defesa do parlamentar fosse um mal
necessário que visasse garantir um “bem maior”: a derrubada de Dilma.
Ocorre que, com contas bloqueadas na
Suíça, Cunha poderá se tornar um aliado pesado demais até mesmo para
seus mais cínicos aliados. (247)