domingo, 12 de julho de 2015

SILVIO SANTOS TEVE TUDO PRA CHEGAR À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

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Às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial de 1989, a primeira após a ditadura militar, vencida por Fernando Collor (PRN), um fato novo quase provoca uma grande reviravolta: a candidatura de Silvio Santos. Mesmo faltando pouco mais do que 20 dias para o pleito, o Homem do Baú balançou o cenário eleitoral.
Depois de se reunir com o senador Marcondes Gadelha, do PFL da Paraíba e líder do Governo do então presidente José Sarney no Senado, e Armando Corrêa, então candidato pelo nanico Partido Municipalista Brasileiro (PMB), Silvio Santos aceitou concorrer à Presidência da República.
Silvio Santos chegou a gravar programas eleitorais e concorreria com o número 26, sob o nome de Armando Corrêa, já que não haveria tempo para mudança na cédula. Logo após o anúncio da candidatura, Silvio Santos desbancou Collor em uma pesquisa do Instituto Gallup – foi a primeira vez que o então candidato favorito, que se apresentava como caçador de marajás, saiu da liderança do pleito.
O Senor Abravanel liderava as intenções de voto com 29%, seguido por Collor, que tinha 18%. Em terceiro lugar estava Lula, com 10,6%. A maioria das pesquisas na época apontava que Silvio Santos estaria no segundo turno. Com a candidatura do apresentador, alguns levantamentos mostravam que os que mais perdiam votos eram Collor e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que caiam até 5%.
Contudo, a grande dificuldade de Silvio Santos era fazer o eleitor entender como votar nele. Como era candidato de última hora, o nome do apresentador não aparecia na cédula, e sim o do antigo candidato do PMB – Armando Corrêa – à época, não havia urna eletrônica, todos os votos eram em cédulas de papel e depositadas em uma urna.
Algumas pesquisas que não colocavam Silvio Santos, mas sim Corrêa, mostravam a dificuldade do apresentador, que usava seus programas eleitorais de rádio e TV para explicar como votar nele. Silvio Santos resolveu então entrar com o pedido oficial de candidatura no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) dois dias antes de o PRN, partido de Collor, entrar com pedido para a extinção do partido do apresentador.
A alegação era de que o PMB não havia feito o número mínimo de convenções exigido pela legislação eleitoral. No mesmo dia, o Ibope divulgou uma pesquisa apontando Collor na liderança, com 23%, seguido de Silvio Santos, com 18% e Brizola, com 14%. Após a divulgação do Ibope, o TSE recebeu mais 14 pedidos contra a candidatura de Silvio Santos.
Numa sessão histórica do TSE, que se prolongou até tarde da noite, eu estava lá no meio de um batalhão de jornalistas em Brasília à espera da decisão da corte, convocada especialmente para deliberar sobre a pendenga judicial. O destino do País estava, portanto, nas mãos dos ministros do TSE.
Televisões e rádios montaram seus equipamentos de transmissão ao vivo para acompanhar a votação, quando já perto da meia saiu o veredicto: o TSE havia cassado, por unanimidade, o registro do PMB, anulando a candidatura de Silvio Santos. Constatou que PMB não tinha como comprovar as convenções em nove Estados, mas em apenas quatro.
Com isso, o TSE entendeu que o partido não existia, o que tornava inválida a candidatura do Homem do Baú, que decidiu não recorrer da decisão. Assim terminou a aventura presidencial de Silvio Santos, que decidiu voltar aos programas de domingo com suas atrações e aviõezinhos para o auditório e deixar de lado a política.
O engraçado disso tudo é que Silvio Santos passou a vida inteira negando que tinha projetos políticos. “Se o Silvio Santos um dia for candidato a qualquer cargo eletivo, e se o Silvio Santos apontar qualquer um candidato às eleições, não votem no Silvio Santos e nem em quem ele apontar, porque o Silvio Santos vai estar tapeando vocês. Não quero ser político e não vou apontar ninguém pra presidente da República”, afirmou em 1988, segundo os jornais registraram na época.
Antes do nanico PMB, o PFL, mesmo com a candidatura de Aurelino Chaves, o havia sondado em sua casa no Morumbi, num encontro que contou com os senadores Carlos Chiarelli (RS), Jorge Bornhausen (SC) e José Agripino Maia (RN). Ali, o animador disse não querer “correr o risco” de se indispor com setores influentes da política durante a campanha. “Prefiro continuar empresário e de bem com todo mundo”, alegou.
Um ano depois, contudo, o apresentador mudou de opinião, certamente porque as pesquisas de intenção de voto o apontavam na liderança. A decisão saiu quando ele se reuniu com Armando Corrêa, presidenciável pelo “nanico” PMB (Partido Municipalista Brasileiro). Corrêa ofereceu a legenda e o lugar, mas queria que Silvio se comprometesse com as propostas do partido. Silvio aceitou a pouco mais de 20 dias para a eleição.
 “Eu acho que tenho condições de ganhar. Vai depender do povo. Tenho muita sinceridade, tenho sensatez. Temos de nos assessorar com pessoas de bem. Eu vou me assessorar com bons ministros. Tenho muitas condições de fazer um bom governo”, afirmou Silvio logo após decidir pela candidatura, que deu em água.