Ricardo Noblat
Antigamente, quando o mundo era analógico, Fernando Henrique Cardoso cunhou uma expressão que fez sucesso:
- A crise viajou!
Referia-se
ao então presidente da República José Sarney, que sucedera a Tancredo
Neves, o presidente eleito que morreu sem tomar posse.
O
governo de cinco anos de Sarney foi marcado por crises políticas e por
uma inflação que bateu a casa dos 80% ao mês. Eu disse: 80% ao mês.
Fernando Henrique achava que o país só tinha algum refresco quando Sarney viajava ao exterior.
Em um mundo digital, como o de hoje, a expressão “a crise viajou” não faz mais sentido.
País
e crise estão conectados o tempo todo. Acompanhamos em tempo real o que
a presidente faz no exterior. E ela também o que se passa por aqui na
sua ausência.
Mesmo
assim, alguma diferença há entre Dilma estar por perto ou por longe. À
distância, é substituída pelo vice Michel Temer (PMDB-SP). E a
temperatura política baixa instantaneamente.
Dilma viajou à Rússia depois de desafiar seus adversários a tentarem derrubá-la. E de acusar parte da oposição de ser golpista.
Desembarcou por lá feliz da vida achando que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) “vestiu a carapuça”.
Provocado por jornalistas, Temer preferiu elogiar a oposição.
-
Devemos pensar no Brasil. A oposição existe também para ajudar a
governar, mesmo quando critica. Temos que fazer uma grande unidade
nacional, mais do que nunca é necessário o pensamento conjugado dos
vários setores da nacionalidade, portanto, dos vários partidos
políticos, para que caminhemos juntos em beneficio do Brasil. Não vale a
pena levar adiante essas discussões.
Dizer
que Temer desautorizou o que Dilma disse pode parecer uma tentativa de
intrigá-los. Mas pensar que ele o fez não é nenhum absurdo.
Temer só cresce na comparação com Dilma. Deve ser por isso que o PT e ministros próximos de Dilma estão muito incomodados.