A defesa de Marcelo Odebrecht, preso desde 19 de junho sob suspeita
de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, abriu mão de
explicar à Justiça Federal no Paraná, base da Operação Lava Jato, o
sentido e o significado das anotações encontradas pela Polícia Federal
em seu celular. Em petição entregue nesta segunda-feira (27) ao juiz
federal Sérgio Moro, os advogados da maior empreiteira do país
destacaram: "A defesa não tem motivos para esclarecer palavras cujo
pretenso sentido Vossa Excelência já arbitrou". "Inútil falar para quem
parece só fazer ouvidos de mercador", afirma a defesa da Odebrecht em
petição de oito páginas entregue ao juiz que conduz todas as ações
penais da Lava Jato . Intriga os investigadores uma sequência de
registros no celular de Odebrecht que indicam suposta estratégia do
empresário para eliminar provas da Lava Jato. São expressões abreviadas,
muitas delas, nem sempre fáceis de se entender. Verdadeiros enigmas, na
avaliação dos investigadores. Entre os termos encontrados pela Polícia
Federal destacam-se as expressões 'dissidentes PF', 'trabalhar para
parar/anular'. Os investigadores supõem que os termos denotam a
estratégia de Marcelo Odebrecht de prejudicar o andamento da
operação. "Em seu afã de incriminar Marcelo Odebrecht a todo custo (a
PF) nem se deu ao trabalho de tentar esclarecer as anotações com a única
pessoa que poderia interpretá-las com propriedade - seu próprio autor.
Ao reverso, tomou desejo por realidade e precipitou-se a cravar
significados que gostaria que certos termos e siglas tivessem",
protestam os advogados do empreiteiro". "Houvesse tido a cautela que sua
função exige, e a Polícia Federal teria evitado a barbaridade que,
conscientemente ou não, acabou por cometer: levou a público segredos
comerciais de alta sensibilidade em nada relacionados aos pretensos
fatos sob apuração, expôs terceiros sem relação alguma com a
investigação e devassou mensagens particulares trocadas entre familiares
do peticionário, que logo caíram no gosto de blogs sensacionalistas",
completa a petição. Inicialmente, o juiz deu 48 horas para a defesa
explicar as citações, mas decidiu prorrogar o prazo até esta segunda,
atendendo a uma solicitação dos próprios advogados que argumentaram a
necessidade de se entrevistarem primeiro com o empresário na Custódia da
PF em Curitiba. No documento entregue, eles voltam a criticar a nova
ordem de prisão preventiva de Marcelo, decretada na última sexta (24), e
dizem que a postura da PF ignora que há "indivíduos, famílias,
empresas, finanças, obras e empregos em jogo"