Um
mês depois de deixar o governo, Lula embarcou em um avião da Gol para
Brasília. Apertou-se na poltrona, posou para fotos com passageiros e
disse que os políticos deveriam "ir para a rua".
Era
só truque de marketing, porque o ex-presidente não foi mais visto em
voos comerciais. Passou a se deslocar em jatos fretados por empresas que
o contratam. A lista inclui ao menos três empreiteiras investigadas na
Operação Lava Jato.
Papéis
apreendidos pela Polícia Federal revelaram que a Camargo Corrêa deu R$
4,5 milhões ao Instituto Lula e à empresa de "palestras, eventos e
publicações" do petista. Em abril, o Ministério Público já havia aberto
procedimento sobre as suas viagens a serviço da Odebrecht. Segundo a
Procuradoria, o instituto pediu mais prazo para se explicar.
Quando
as duas notícias vieram à tona, a assessoria de Lula reagiu com
irritação. Há um mês, criticou a revista "Época" e afirmou que ele "faz
palestras e não lobby ou consultoria". Nesta quarta, acusou a imprensa
em geral de semear "factóides, má-fé e preconceito" para atingi-lo.
Em
vez de atacar jornalistas, Lula deveria divulgar com transparência o
que fez, para onde viajou e quanto recebeu das empresas citadas no
petrolão. Ele está sem mandato, mas continua na vida pública. Comanda o
PT, reúne-se regularmente com a presidente Dilma e já começou a campanha
para voltar em 2018.
A
CPI da Petrobras acaba de convocar o presidente do Instituto Lula,
Paulo Okamotto, para prestar depoimento. Seria interessante que seu
chefe também aceitasse falar abertamente sobre a Lava Jato. Foi no
governo dele que a maior estatal brasileira registrou a maior parte das
perdas de R$ 6,2 bilhões com corrupção.
Em
2009, Lula reclamou da publicação de suspeitas contra José Sarney e
disse que o aliado não deveria ser tratado "como se fosse uma pessoa
comum". Agora que também é ex-presidente, parece estender a opinião a si
próprio. Está errado.