O governo decidiu transferir para o Senado a negociação dos cargos
de segundo e terceiro escalões e a transferência de verbas federais para
os Estados dos senadores como forma de vencer suas votações
prioritárias até agora: as medidas provisórias do ajuste fiscal e a
indicação de Luiz Fachin para o Supremo Tribunal Federal. Para o Palácio
do Planalto, com essa estratégia será possível derrotar o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que se tornou neste segundo mandato
um dos principais críticos da presidente Dilma Rousseff. Para o
peemedebista, a semana servirá para testar sua força na Casa com a
possibilidade de impor duas duras derrotas à petista. Na terça-feira
(19), o nome de Fachin será submetido à chancela dos senadores, em
votação secreta. Também entra na pauta do Senado a primeira medida
provisória do pacote de ajuste fiscal do governo, a 665, que restringe
direitos trabalhistas, como o seguro-desemprego. Para derrotar o
governo, porém, Renan vai precisar do apoio de seus pares, que apontam
que ele está cada vez mais isolado. A avaliação entre os senadores é de
que ele perdeu força política na Casa. Teve de enfrentar na eleição pela
presidência um adversário do próprio PMDB e, apesar de ter vencido, não
obteve votação expressiva. Posteriormente, virou alvo de três
inquéritos no Supremo por suspeita de envolvimento na Operação Lava
Jato, inclusive tendo contra si pedidos de quebra de sigilos bancário e
fiscal. Renan tem enfrentado divergências até com antigos aliados no
PMDB. Na sabatina do indicado ao STF na Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ), peemedebistas como Romero Jucá (RR), Jader Barbalho (PA) e
Garibaldi Alves Filho (RN), elogiaram Fachin em público. O governo
considera que o enfraquecimento de Renan pode auxiliar no embate desta
semana. O governo calcula ter 51 votos em favor do seu indicado, 10 a
mais do que o mínimo necessário. Na votação da MP 665, o otimismo do
governo é grande. Mas o Planalto também reconhece que Renan, apesar do
enfraquecimento, ainda detém a força do cargo e o poder de pautar o que
quiser na Casa. Em razão disso, pretende manter e até ampliar os acenos
feitos nos últimos dias ao peemedebista. Considera importante evitar
melindrá-lo. Foi dentro dessa perspectiva que o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva se encontrou com Renan na quinta-feira (14) em
Brasília e Dilma o convidou para irem no avião presidencial ao enterro
do senador Luiz Henrique (PMDB-SC), na segunda-feira em Joinville
(SC). Considerado um dos principais aliados no Congresso no primeiro
mandato, Renan se distanciou de Dilma por duas razões: para ele, o
Executivo agiu para incluí-lo na lista de investigados na Lava Jato; e a
perda de apadrinhados de peso na estrutura federal, como Vinícius
Lages, substituído pelo ex-deputado Henrique Eduardo Alves no Ministério
do Turismo, e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.