(Carlos Chagas)
Da
reforma política não se fala mais. Desmanchou-se no ar. Não há consenso
para nada de importante, no Congresso. Sequer o distritão, que levaria
para a Câmara os mais votados em cada estado, quanto mais a proibição de
doações das empresas nas campanhas eleitorais. Muito menos a redução do
número de partidos de aluguel. Até a extinção dos suplentes de senador
não vai passar. Fim da reeleição e mandato de cinco anos para
presidentes, governadores e prefeitos? Nem pensar, porque a ambição da
maioria, mesmo ilusória, funciona a todo vapor.
Marcada
para o final do mês uma semana de discussões e votações intensivas na
Câmara, sequer há certeza de que venha a realizar-se. A conclusão surge
clara: o país é esse mesmo, milagres inexistem. Deputados e senadores
elegem-se há tempos dentro das regras atuais, mesmo canhestras e
distorcidas. Por que contribuiriam para mudá-las e arriscar-se a não
voltar, na próxima Legislatura?
Esvaiu-se
o discurso fácil de que nossos problemas desapareceriam com a reforma
política, ainda mais com a fantasia de uma Constituinte Exclusiva,
bobagem endossada por quem jamais recebeu uma aula de Direito
Constitucional. O poder constituinte que dá origem a uma Constituição só
pode ser exercido quando há a ruptura das instituições, a falência da
ordem anterior. E o poder constituinte derivado, inerente ao
Congresso, não pode ser delegado a nenhum corpo estranho. Qualquer
mudança na lei fundamental, e algumas tem sido praticadas desde 1988,
só por iniciativa de deputados e senadores. Os mesmos que não votarão a
reforma política, ao menos no que ela teria de essencial para
aprimorar as instituições.
Outro
empecilho ao sonho da reforma política situa-se na resistência das
elites à aplicação prática dos dispositivos constitucionais atuais.
Onde anda a reforma agrária? A participação dos empregados no lucro das
empresas? A co-gestão? A determinação de que o salário mínimo deve
bastar para o trabalhador e sua família enfrentarem despesas com
educação, saúde, alimentação, moradia, vestuário, transportes e até
lazer? O estado de bem-estar social limita-se à esmola do
bolsa-família?
Há
mais de doze anos com o Partido dos Trabalhadores no poder, quantos
princípios da Constituição atual deixam de ser cumpridos? Até os
direitos trabalhistas, em vez de aumentados, tem sido reduzidos. Ainda
agora acabam de ser atingidos o salário-desemprego e o abono salarial,
enquanto multiplica-se o lucro dos bancos.
Em
suma, o país cresce feito rabo de burro, sem a menor perspectiva de
promover a reforma política. Melhor seria, ao menos, aplicar os
dispositivos que já existem.