Pouco a pouco, a palavra vem sendo
escrita e falada em todos os cantos onde se fala e escreve. Começou
veladamente, em algum artigo ou comentário na mídia. Hoje, repetindo
Nelson Rodrigues, ela é assunto em todas as partes, nos botecos e
velórios. No início, parecia uma alucinação dos opositores do atual
governo, ou de adversários históricos do PT.
Agora, ela frequenta todos os veículos
das mídias existentes. E citando o meu amigo Merval Pereira, até o Lula,
discreto quando lhe interessa, não bota a boca no trombone, mas avalia
os estragos que um impeachment da presidente Dilma pode trazer para seu
partido e para seu projeto pessoal de volta ao poder.
Tudo bem (ou tudo mal). Há elementos
bastantes para isso, mas há também a necessidade moral, política e
jurídica de uma investigação isenta para a punição que, aparentemente,
ela está merecendo. Não apenas pelos escândalos do mensalão e do
petrolão, dos quais a presidente Dilma foi de certo modo a grande
beneficiária.
Vamos com calma. No caso do impedimento
de Collor, não havia o discutível preceito da delação premiada. Quem
delatou o ex-presidente foi o próprio irmão, que não recebeu prêmio
algum, a não ser um câncer que o matou logo após a delação.
Além do escândalo que me parece o maior
de nossa história republicana, e talvez de todo o Império, a presidente
está sendo justamente cobrada pelas retumbantes promessas da campanha
eleitoral que a elegeu pela segunda vez. Em alguns pontos, não em todos,
ela mentiu e enganou o eleitorado.
E uma vez eleita e empossada, está
cometendo tudo o que condenou em seus antecessores, exceto o
ex-presidente Lula, que está necessitado de um grande gesto que o
absolva de alguns erros de seu passado. Afinal, quem nunca errou que
atire a primeira pedra.
(Carlos Heitor Cony - Folha de S.Paulo)
(Carlos Heitor Cony - Folha de S.Paulo)