A
responsabilidade política pelo escândalo de corrupção na Petrobras
recai mais sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que sobre a
presidente Dilma Rousseff, avaliou o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, acrescentando que as indicações de diretores da estatal feitas
por partidos não eram um segredo para ninguém.
O
ex-presidente tucano afirmou que Dilma provavelmente merece receber
menos culpa pelo escândalo de corrupção na Petrobras do que seu
antecessor e padrinho político.
"Lula está calado", afirmou Fernando Henrique em entrevista à Reuters.
Lula
governou o Brasil entre 2003 e 2010 --período em que, segundo os
procuradores, o esquema foi mais intenso. O ex-presidente pode estar
planejando uma volta ao poder nas eleições presidenciais de 2018.
"Se
alguém tem mais responsabilidade política por isso (caso Petrobras), é
ele, não ela", disse Fernando Henrique, lembrando que os ex-executivos
da Petrobras agora acusadas foram nomeações políticas feitas durante o
governo Lula.
Entretanto,
um dos delatores de esquema, o ex-gerente de serviços da Petrobras
Pedro Barusco, disse que o esquema de pagamento de propinas na Petrobras
começou em 1997, durante o governo tucano.
Apesar
das turbulências políticas e dos protestos das ruas pedindo a saída da
petista do cargo, o PSDB, principal partido de oposição a Dilma, não tem
interesse no impeachment da presidente, segundo o ex-presidente tucano.
FHC,
que aos 83 anos ainda é um líder influente no PSDB, disse que a
deposição de Dilma pouco depois de sua reeleição, em outubro de 2014,
seria um processo destrutivo para a democracia brasileira, retomada
somente há 30 anos, principalmente porque o Ministério Público ainda não
encontrou nenhuma evidência de que ela tenha participado do esquema de
corrupção na Petrobras.
"Ninguém pode querer impeachment, é um problema complicado", disse o ex-presidente, que governou o Brasil entre 1995 e 2002.
Ele,
no entanto, se recusou a descartar a possibilidade de um impeachment
caso novas evidências surjam, mas disse que aqueles que pedem o
impeachment agora não sabem as consequências que geraria e não conhecem
as pré-condições necessárias para que se concretize.
"É
preciso ter um delito e ter um consenso político tanto no Congresso
quanto na rua. Eu não acho que estejamos nessa situação", avaliou o
ex-presidente, acrescentando que a maioria dos líderes do PSDB pensa da
mesma forma.
Mais
de 1 milhão de pessoas foram às ruas de dezenas de cidades no dia 15 de
março para protestar contra o governo Dilma. Embora o slogan dos
manifestantes fosse favorável ao impeachment, pesquisas e entrevistas
mostraram posteriormente que a maioria estava mais interessada em
expressar seu repúdio à corrupção e a forma como Dilma cuida da
economia.
Recente
pesquisa Datafolha mostrou a popularidade de Dilma no menor nível desde
que ela assumiu o governo em 2011 e quase dois terços da população
consideram seu governo "ruim" ou "péssimo". Pesquisa CNT/MDA divulgada
nesta segunda-feira trouxe o mesmo cenário.
Fernando
Henrique disse ainda que a pressão popular dos envolvidos no escândalo
tornará difícil ou impossível para Dilma fechar um acordo político ou
legal para minimizar os danos a dezenas de empresas acusadas de
envolvimento no esquema envolvendo a Petrobras, políticos e partidos e
as maiores empreiteiras do país.
"Não haverá solução rápida para isso. É necessário que a Justiça prevaleça. É isso que a sociedade está exigindo", afirmou.