sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Titular da Fazenda tem de provar que é ministro



Apontado como provável ministro da Fazenda de um governo que recomeça por baixo, Joaquim Levy (ou qualquer outro que Dilma Rousseff venha a escolher), enfrentará dois desafios inusitados. Primeiro, o novo ministro terá de provar que é ministro de verdade, não mais um figurante. Depois, terá de restaurar a confiança do país no seu potencial econômico. Algo que exige a administração de uma herança ruinosa sem culpar a administração anterior pelo flagelo.
Numa palavra, o substituto de Guido Mantega precisa fazer mágica. Como ministra da Fazenda de si mesma, Dilma empurrou para dentro do seu segundo mandato um quadro de borrasca: rombo nas contas públicas, estagnação econômica, inflação no teto, juros em alta, retração dos investimentos e déficit em conta corrente… Reeleita com um discurso de fábula e sem exibir um plano de governo, a presidente passou a fazer declarações sem muito nexo.
Abertas as urnas, Dilma reconheceu que o governo teria de cortar despesas. Mas disse que faria isso sem mexer no nível de emprego e na renda. No último final de semana, Dilma repetiu que passará alguns gastos na lâmina. Mas realçou que os cortes não afetarão a demanda. O diabo é que ainda não foi inventada uma maneira de podar despesas sem afetar a demanda e, com ela, o emprego e a renda.
Assim, para começo de conversa, o novo ministro precisa começar a falar sério. Ou, por outra, terá de agir seriamente. A restauração da confiança depende da capacidade de Levy de tomar providências que, na prática, desdigam a chefa. Ou ele faz isso ou o país se arrisca a tomar das agências de classificação de risco de crédito uma nota vermelha. Que levará à perda do grau de investimento que o Brasil conquistara em 2008, sob Lula. Nessa hipótese, os investidores preferirão ainda mais os juros aos riscos.
Resumindo: o novo ministro da Fazenda será prisioneiro de um paradoxo. Para atenuar a encrenca que Dilma legou a si mesma, terá de implementar as medidas impopulares que, ao longo de toda a campanha, a presidente acusara o adversário Aécio Neves de tramar. Além do ajuste fiscal, precisa colocar em pé uma política econômica com começo, meio e fim. Como se fosse pouco, terá de tirar cartolas de dentro do coelho contra um pano de fundo carbonizado pelo petrolão, com o Legislativo em chamas e o Executivo sob questionamentos.


(Do Blog do Josias)