domingo, 2 de novembro de 2014

Lula se mexe para voltar. Mas PT encontra obstáculos



 Em conversas com amigos, o ex-presidente Lula confidenciou estar preocupado com o novo governo de sua sucessora porque acha que depende dela a manutenção do PT no poder a partir de 2019. Lula prevê tempos difíceis pela frente tanto na política, com os desdobramentos da Operação Lava Jato da Polícia Federal e com a candidatura do desafeto Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados, quanto na economia, já que Dilma terá de recorrer a um pesado ajuste fiscal para cortar despesas.
“Se ela fizer um segundo mandato igual ao primeiro, sem ouvir ninguém, estaremos perdidos”, disse o ex-presidente para um interlocutor do Rio, de acordo com relato obtido pelo Estado.
Lula se movimenta para ser candidato ao Palácio do Planalto, em 2018, e pretende ter mais influência no governo Dilma, de agora em diante. Ao mesmo tempo, o ex-presidente quer fazer uma profunda reforma no PT, que, no seu diagnóstico, precisa de uma “chacoalhada” porque envelheceu, se distanciou dos movimentos sociais e não soube se defender das sucessivas denúncias de corrupção - desde o escândalo do mensalão até as acusações de desvio de dinheiro na Petrobrás.
Distância
Até agora, porém, os “lulistas” no primeiro escalão estão isolados e têm perdido espaço. O PT, com 17 dos 39 ministérios, reivindicará Cidades, hoje com o PP de Paulo Maluf. Por ter um orçamento polpudo - R$ 26,3 bilhões previstos para 2015 - e ser responsável por obras de saneamento, mobilidade e habitação popular, a pasta é alvo de vários aliados e pode ir para o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. O PMDB, com cinco ministérios (Minas e Energia, Previdência, Agricultura, Turismo e Aviação Civil), também quer aumentar sua cota na Esplanada e pede Transportes ou Integração Nacional.
Dilma não se mostra disposta a ceder nesse capítulo. Além de driblar projetos no Congresso que, se aprovados, aumentam os gastos e prejudicam as contas públicas, como os de reajuste salarial, a presidente também enfrenta o mau humor dos aliados que perderam a disputa em seus Estados e culpam o governo pelo fracasso nas urnas.  (De O Estado de S.Paulo - Vera Rosa)