Em
conversas com amigos, o ex-presidente Lula confidenciou estar
preocupado com o novo governo de sua sucessora porque acha que depende
dela a manutenção do PT no poder a partir de 2019. Lula prevê tempos
difíceis pela frente tanto na política, com os desdobramentos da
Operação Lava Jato da Polícia Federal e com a candidatura do desafeto
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara dos Deputados, quanto na
economia, já que Dilma terá de recorrer a um pesado ajuste fiscal para
cortar despesas.
“Se ela fizer um segundo
mandato igual ao primeiro, sem ouvir ninguém, estaremos perdidos”, disse
o ex-presidente para um interlocutor do Rio, de acordo com relato
obtido pelo Estado.
Lula se movimenta para ser
candidato ao Palácio do Planalto, em 2018, e pretende ter mais
influência no governo Dilma, de agora em diante. Ao mesmo tempo, o
ex-presidente quer fazer uma profunda reforma no PT, que, no seu
diagnóstico, precisa de uma “chacoalhada” porque envelheceu, se
distanciou dos movimentos sociais e não soube se defender das sucessivas
denúncias de corrupção - desde o escândalo do mensalão até as acusações
de desvio de dinheiro na Petrobrás.
Distância
Até agora, porém, os “lulistas” no primeiro escalão estão isolados e têm perdido espaço. O
PT, com 17 dos 39 ministérios, reivindicará Cidades, hoje com o PP de
Paulo Maluf. Por ter um orçamento polpudo - R$ 26,3 bilhões previstos
para 2015 - e ser responsável por obras de saneamento, mobilidade e
habitação popular, a pasta é alvo de vários aliados e pode ir para o PSD
do ex-prefeito Gilberto Kassab. O PMDB, com cinco ministérios (Minas e
Energia, Previdência, Agricultura, Turismo e Aviação Civil), também quer
aumentar sua cota na Esplanada e pede Transportes ou Integração
Nacional.
Dilma não se mostra
disposta a ceder nesse capítulo. Além de driblar projetos no Congresso
que, se aprovados, aumentam os gastos e prejudicam as contas públicas,
como os de reajuste salarial, a presidente também enfrenta o mau humor
dos aliados que perderam a disputa em seus Estados e culpam o governo
pelo fracasso nas urnas. (De O Estado de S.Paulo - Vera Rosa)