Em meio ao debate
no julgamento de representação contra a propaganda da presidente Dilma
Rousseff por uso de um discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva contra o candidato Aécio Neves, na noite desta terça-feira,
ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não se contiveram e
usaram de ironia para se contraporem às declarações do ex-presidente.
Estava em
julgamento o discurso feito por Lula em palanque em Belo Horizonte (MG)
no qual, entre outras coisas, o ex-presidente pergunta onde estaria
Aécio Neves quando a jovem Dilma Rousseff estava presa, lutando pela
democracia no país.
Num tom irônico, o
ministro Gilmar Mendes, depois de ouvir que à época Aécio teria 10 anos
de idade, comentou que Lula não teria passado pelo bafômetro antes de
dar tais declarações, provocando risos no ministro João Otávio de
Noronha, que votava. Noronha fez questão de dividir com os colegas o
comentário. Mas, cauteloso, acrescentou logo em seguida que não seria
adequado seguir por esse caminho para também não baixar o nível do
debate na Corte.
— O ministro
Gilmar disse aqui se ninguém perguntou se o candidato, não o candidato,
mas quem afirma (Lula), passou pelo bafômetro antes de fazer tal
declaração. Mas, isso aí vamos cair no mesmo nível... — disse Noronha.
Gilmar fez o
comentário quando Noronha lia a declaração de Lula que considerou mais
ofensiva a Aécio. No discurso de Lula, usado pela campanha de Dilma no
programa eleitoral, logo depois de perguntar onde estaria Aécio quando
Dilma lutava pela democracia, foi dito que o comportamento de Aécio não
seria o comportamento de um candidato ou de alguém que tem
responsabilidade, mas de um "filhinho de papai".
O ministro
Noronha, ao ler este trecho da representação, comentou que Aécio teria
10 anos à época, ou seja, que não teria como se cobrar responsabilidade
de alguém com 10 anos e que, por isso, o uso desse trecho das
declarações de Lula no programa em nada contribuiriam para a propaganda
eleitoral. Foi neste momento que Gilmar Mendes comentou:
— E nem passou pelo bafômetro antes de falar isso...
O julgamento desse
recurso do PSDB já começou em tom elevado, com a defesa contundente
feita pelo advogado Caputo Bastos que criticou duramente a fala de Lula,
classificando a comparação entre a atuação de Dilma e de Aécio durante a
luta contra o regime militar como algo "patético".
— É mera conta matemática. Com todas as vênias que merece o ex-presidente, isso não é crítica política, é ofensa pessoal.
O advogado da
campanha de Dilma, Ministro Arnaldo Versiani, tentou amenizar o
problema, afirmando que as declarações tinham sido dadas no calor do
palanque.
O
procurador-geral eleitoral da República, Rodrigo Janot, concordou e
enfatizou que o Ministério Público estava com dificuldades de traçar os
limites do que é possível ou não é possível na propaganda, depois da
decisão da semana passada do TSE para barrar o que considerou baixo
nível nos programas. O relator do recurso, Admar Gonzaga, considerou
ofensivo o uso da fala em que Aécio é chamado do filhinho de papai.
SER AMIGO DE BANQUEIRO NÃO É PROBLEMA, DIZ MINISTRO
Durante o
julgamento, Gilmar Mendes também fez considerações sobre a atuação dos
grupos pela democracia no Brasil. Segundo ele, muitos dos que lutavam
defendiam a luta armada e eram filiados a partidos de regimes como o
soviético, o chinês e o cubano. E que Lula não poderia tentar corroer a
biografia de alguém, que naquela época, mal tinha saído do jardim da
infância. O presidente do TSE, Dias Toffoli, também recorreu a livros
recentes sobre o golpe de 64, em adendo à fala de Gilmar.
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O PSDB conseguiu
convencer todos os ministros de que o programa de Dilma extrapolou ao
usar a fala de Lula e e tirar um minuto e 50 segundo do programa
eleitoral da adversária. Além do debate sobre a participação de Aécio na
luta contra o regime, os ministros também teceram comentários sobre o
fato de Lula dizer que Aécio é amigo dos banqueiros. Para o ministro
Noronha, dizer que é amigo de banqueiro não seria problema, seria a
visão dele.
— Dizer que é
amigo de banqueiro, ok, é a visão dele. E os banqueiros convivem muito
bem aqui, com todos os regimes, os governos. No Brasil, ter talento,
ficar rico é um insulto à sociedade — disse Noronha.
— Eu tenho um amigo banqueiro, ótimo caráter — acrescentou o relator do recurso, ministro Ademar Gonzaga. (Do Portal o Globo) |