'Não quero ódio', diz mãe em enterro de advogado vítima de Paulinho Mega
Ele foi sequestrado e morto em Salvador. Amigo cometeu crime, diz polícia.
Corpo do advogado Ricardo Melo é sepultado
(Foto: Cássia Bandeira/G1)
“O que eu quero dizer é que nesse momento eu estou me sentindo mais
tranquila porque vou ter o direito que toda mãe deve ter quando vê seu
filho morto, o direito de enterrar". Esta foi a declaração de Miriam
Andrade, mãe do advogado Ricardo Andrade Melo, 37, morto após ser
sequestrado pelo "amigo" conhecido por "Paulinho Mega", durante
sepultamento do filho na manhã desta quinta-feira (30), no cemitério do
Campo Santo, em Salvador.
O corpo do advogado foi liberado na quarta-feira (29), após 52 dias no
Instituto Médico Legal (IML). "Sofri muito. Há quase meio ano que venho
sofrendo com tudo isso que aconteceu, mas estou dando a ele um descanso,
um descanso eterno, e tirando desse mundo que está tão violento, com
pessoas tão maldosas, com pessoas invejosas, com pessoas que eu não
tenho nem palavras para dizer de uma pessoa dessas", disse Miriam
Andrade durante o velório do filho. Ricardo Melo foi sequestrado em
abril deste ano e o corpo foi encontrado em uma cisterna, no bairro de
Castelo Branco, em Salvador, no mês de setembro.
O principal suspeito de sequestrar e matar o advogado é Paulo Roberto
Gomez Guimarães Filho, o "Paulinho Mega", que está preso na capital
baiana, e teria cometido o crime por dinheiro.
"Eu não quero rancor, não quero ter ódio, quero apenas esquecer e
lembrar do meu filho só dos bons momentos e agora poder enterrá-lo com
paz, tranquilidade e dar a ele o descanso eterno. Espero que a gente um
dia se encontre”, disse a mãe da vítima.
Paulinho Mega, entre o pai e o homem apontado
como comparsa (Foto: Henrique Mendes/G1)
Caso
"Paulinho Mega" foi preso no dia 5 de outubro, em São Paulo. À polícia, o
autor assumiu que sequestrou o advogado porque precisava de dinheiro
para fugir do país. Ele já tinha sido condenado a 22 anos de prisão por
outro homicídio e planejava deixar o Brasil. No entanto, Paulinho Mega
afirma que não foi ele quem matou a vítima.
Além de "Paulinho Mega", também foram detidos o pai dele, Paulo
Magalhães, de 65 anos, e Arivan de Almeida Morais, apontado como
comparsa. O delegado Cleandro Pimenta, responsável pelas investigações,
disse que Aurivan de Almeida contou em depoimento que matou Ricardo
Andrade Melo com uma paulada na cabeça.
"Paulinho Mega", além de ter sido condenado por outro homicídio, já
respondeu a inquéritos policiais e a processos criminais por
estelionato, tráfico internacional de drogas no Mato Grosso e por
envolvimento na morte de duas pessoas, um outro vizinho e um amigo de
infância.
Amizade forçada
O suposto sequestrador de Ricardo alugou um apartamento no mesmo prédio
da vítima para se aproximar dele. Os dois foram vistos juntos, pela
última vez, no dia 29 de abril, em um posto de combustível no bairro da
Graça, em Salvador.
Ricardo acompanhava o vizinho, que informou que iria comprar um carro
importado. Horas depois, Paulinho Mega aparece entrando em um posto
bancário. Segundo a polícia, ele tentou sacar o dinheiro da conta de
Ricardo, mas não conseguiu porque o cartão estava bloqueado. Depois
disso, o advogado e Paulinho Mega não foram mais vistos.
A família recebeu um telefonema pedindo resgate e o sequestrador mandou o
número da conta bancária para depósito. A polícia descobriu que a conta
estava em nome de uma criança, filha de Paulinho Mega.