segunda-feira, 14 de julho de 2014

'Sou inocente', diz advogada suspeita de participar de morte de zelador




A advogada Ieda Cristina Martins, suspeita de participar do assassinato e esquartejamento do zelador Jezi de Souza, em maio, disse em entrevista exclusiva ao fantástico  que  é  inocente, ela é
Também apontada pela polícia do Rio como responsável pela morte do ex-marido, o empresário José Jair Farias, a advogada se defende. “Eu sou inocente, eu sou inocente. Mas provar a minha verdade eu não sei se eu vou conseguir.”

Há um mês, ela está detida em uma delegacia na Zona Sul da capital. Se recusava a falar, mas quarta-feira (9), pela primeira vez, decidiu quebrar o silêncio. Ieda, que é evangélica, chegou com a Bíblia nas mãos e chorou bastante. Em quase uma hora e meia de conversa, respondeu a todas as perguntas do Fantástico, sem titubear.
Sobre o crime ocorrido em São Paulo, a advogada disse que o marido e o zelador “brigavam muito”. “Mas, assim, eu jamais podia imaginar que ele fosse matar o zelador”, afirmou. A polícia, porém, acredita que Ieda voltou ao apartamento no meio da tarde, depois de um telefonema de Eduardo, para ajudar o marido a esconder o corpo.
Nas imagens do circuito interno do prédio, Jesi foi visto pela última vez às 15h35 do dia 30 de maio. Quarenta e seis minutos depois, às 16h21, Ieda chegou ao prédio e foi para o apartamento, de onde saiu 14 minutos depois. Ela seguiu para uma papelaria, onde comprou material escolar e fita adesiva. Ela voltou para o prédio e pegou o elevador por volta de 17h20, com cartolina e sacolas nas mãos. Onze minutos depois, às 17h31, voltou para o elevador e saiu com três galões vazios.
publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martins,  zelador Jezi Lopes de Souza, (Foto: Caio Prestes/G1)

 
Zelador Jezi Lopes de Souza foi assassinado e
esquartejado (Foto: Reprodução)
Questionada se não viu o cadáver do zelador no apartamento, a advogada disse: “Não percebi. Ele limpou tudo, porque eu não percebi. Se tinha alguma marca, algum vestígio de sangue, alguma coisa, eu não percebi.”
Uma prova levantada pela polícia contra ela foram as botas que usava naquele dia. Elas estavam com marcas de sangue. “Pode até ter, porque eu entrei na cena do crime. É isso que eu não consigo entender, porque ele fez isso comigo. Porque, assim, indiretamente ele me colocou lá”, disse. Ela afirma que foi enganada por Eduardo. “Eu vou me divorciar, inclusive já conversei com os meus advogados”.
Ieda diz que não desconfiou de nada, mesmo quando Eduardo pediu que ela o ajudasse a colocar a mala com o corpo do zelador no carro. “Aí quando ele falou para mim: ‘Me ajuda a impulsionar a mala’, ele pegou a maior parte. Eu não senti nenhum peso maior. Para mim, era roupa que a gente tinha colocado, aquilo que a gente tinha programado para poder levar para a igreja”, contou.
Segundo Ieda, o marido a deixou, junto com o filho mais novo, de 10 anos, no escritório da advogada, e seguiu para a casa do pai na Praia Grande, litoral paulista, onde deixou a mala com o corpo. A versão da advogada não convenceu a polícia de São Paulo, que pode indiciar a advogada nesta semana por homicídio, ocultação do corpo e por porte ilegal de arma.

Assassinato no Rio
Ieda é investigada também pelo assassinato do primeiro marido dela, José Jair Farias, há nove anos. O que liga a mulher a este crime são as peças de uma arma, um cano de uma pistola e um silenciador, encontrados dentro de uma bolsa no armário do quarto do casal em São Paulo.
publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martins, zelador Jezi Lopes de Souza,  (Foto: Marco Ambrosio/Estadão Conteúdo)

 
Publicitário Eduardo Martins quando foi preso em SP
(Foto: Marco Ambrosio/Estadão Conteúdo)
Jair foi morto com dois tiros dentro do carro, em 20 de dezembro de 2005, no Rio de Janeiro. Na semana passada, um exame de balística revelou que um dos projéteis que matou o empresário saiu do cano da pistola encontrado no apartamento de Ieda. “Diante desse resultado do confronto balístico, para mim, não resta dúvida da participação dos dois na morte do José Jair”, disse o delegado Geraldo Assed Estefan.
Ieda se defende dizendo desconhecer o silenciador e o cano da pistola. “Nunca vi, nunca vi. O armário do quarto do casal era o armário dele, com coisas dele. Eu nunca atirei, eu não sei o que é mexer numa bala, eu não sei nem como é que é o barulho de uma bala, de uma pistola.” A mulher diz que sempre teve uma ótima relação com o ex-marido: “Eu nunca ganhei nada com a minha relação com o Jair. Eu nunca exigi nada com relação ao dinheiro dele.”
Filho acusa a mãe
O filho de Ieda com o empresário, José Jair Farias Júnior, afirma que a mãe mente. “Ela arrancou ele [o empresário, que é seu pai] de mim. Eu não pude aproveitar ele. Ele morreu, porque ela matou ele.” O jovem de 18 anos  vive no Rio de janeiro e, desde a morte do pai, em 2005, mora com a avó materna, que não mantém contato com a filha Ieda. “Ela nunca foi uma pessoa boa nem comigo nem com a família. A convivência dela com o meu pai sempre foi briga por dinheiro, discussões.”
Júnior viveu com a mãe até os 10. “Eu tinha medo dela. Ela me ameaçava. Ela me batia com tudo o que vinha pela frente. Ela me batia com a minha cabeça na parede. Umas três vezes ela falou que, caso eu falasse alguma coisa que ela não queria, ela ia esquentar uma colher e ia botar na minha boca. Ela chegou a botar umas três, quatro vezes”, contou o filho. O delegado do Rio abriu inquérito de tortura contra Ieda.
Júnior disse que a mãe e o publicitário tinham uma arma dentro de casa: “A arma que o Eduardo escondia debaixo do travesseiro e a minha mãe sempre falava: ‘Tira do quarto, porque alguém vai entrar no quarto’. E eu tinha muito medo da arma.”
O jovem afirma que a mãe e o marido dela já tinham ameaçado seu pai. “Eu estava no escritório com a minha mãe e chegou o Eduardo. Ele pegou de baixo do banco do carro uma arma, e começou a discutir com o meu pai.” Na época, Jair registrou queixa contra Ieda e Eduardo.
O delegado acha que o principal motivo para o assassinato foi a disputa por um motorhome, um ônibus-trailer. “Ela foi até a casa do José Jair, com mais cinco homens, exigindo que o Jair entregasse o motorhome para ela com o pretexto que seria dela. Não entregou, quer dizer, o bem continua com ele. E dez dias depois, ele faleceu”, afirmou o delegado Geraldo Assed.
Depois da entrevista de Júnior, o Fantástico procurou, neste fim de semana, a defesa de Ieda para saber quais as respostas às acusações feitas pelo filho. O advogado Jefferson Ferreira de Mattos disse que Júnior está sendo sobrecarregado com as informações de que a mãe talvez teria participado do homicídio do pai.
Questionado sobre a acusação de agressão contra o filho, o advogado negou. “Ela é uma mãe carinhosa. Tudo isso, na verdade, é negado pela Ieda, que fala que jamais teria pegado qualquer dinheiro dele.”
Durante a entrevista na cadeia, Ieda pediu para mandar uma mensagem: “Eu gostaria também de pedir perdão à família do zelador, porque eu sei, posso sentir a dor deles. Perdoar aquilo que o meu marido fez e cometeu. Assim como as minhas enteadas, a Tatiane, a Fabiane, a Liliane, o meu filho Júnior.”
O jovem comentou o pedido de desculpas da mãe. “Ela já pediu perdão para família muitas e muitas vezes. Ajoelhava, chorava, era sempre dissimulada. Eu nunca perdoaria ela.” Na quinta-feira (17), Ieda será levada para o Rio de Janeiro para uma acareação. A polícia vai colocá-la frente a frente com a mãe e o irmão dela para tentar esclarecer o crime.